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Canto em dueto e sistema de acasalamento do João-de-barro (Furnarius rufus)
Fecha
2017-09-26Registro en:
ALVES, Pedro Diniz. Canto em dueto e sistema de acasalamento do João-de-barro (Furnarius rufus). 2017. xiii, 223 f., il. Tese (Doutorado em Ecologia)—Universidade de Brasília, Brasília, 2017.
Autor
Alves, Pedro Diniz
Institución
Resumen
A seleção sexual é um dos principais mecanismos de evolução do canto em aves. No entanto, evidências apoiando essa ideia são amplamente baseadas em estudos com canto em machos, mesmo considerando que fêmeas cantem em mais de 70% das espécies de passeriformes, e parceiros reprodutores coordenem seus cantos em duetos em mais 18% das espécies de aves. A função adaptativa do dueto ainda não é bem compreendida e mais de oito hipóteses já foram propostas. O dueto pode surgir através de cooperação ou conflito entre parceiros reprodutores, e pode ser direcionado ao parceiro ou a indivíduos externos ao par reprodutor. Neste estudo, investiguei a função adaptativa dos cantos de fêmeas e machos em uma espécie que canta em dueto, analisando como a expressão desses cantos varia em diferentes contextos de territorialidade, socialidade e reprodução. O modelo de estudo foi o João-de-barro (Furnarius rufus; Aves: Furnariidae), uma espécie socialmente monogâmica, territorial durante todo o ano, aparentemente monocromática e com cantos sexo-específicos. Meus objetivos foram: 1) testar se as funções dos cantos em dueto variam com o sexo, papel no dueto (início ou resposta de canto) e nível de organização do dueto (individual ou casal), avaliando a relação entre expressão do canto, sazonalidade reprodutiva e ocorrência de interações territoriais; 2) investigar a resposta de parceiros reprodutores em grupos com ou sem filhotes jovens ao playback de solo de fêmea, solo de macho e dueto, testando indiretamente as funções desses tipos de canto; 3) descrever o sistema de acasalamento genético do João-de-barro e testar se o canto nessa espécie se correlaciona com a qualidade territorial e sucesso reprodutivo; 4) testar se o nível de coordenação do dueto sinaliza a qualidade ou motivação do casal em competir por territórios, por meio de um experimento de playback de cantos com níveis variados de coordenação temporal; e 5) testar se existe dimorfismo sexual e pareamento seletivo em tamanho do corpo ou coloração da plumagem, o que indicaria um papel da seleção sexual nessa outra modalidade sensorial. Os principais resultados do estudo foram: 1) parceiros reprodutores coordenaram a maioria dos seus cantos em duetos (61%), e machos iniciaram mais cantos do que fêmeas; a função do canto variou em função da interação entre sexo, papel no dueto e nível de organização do dueto, mas, em geral, foi relacionada à defesa de território e do vínculo social do casal; 2) parceiros foram coordenados e equivalentes na resposta aos playbacks de coespecíficos; playbacks de solos foram mais ameaçadores do que playbacks de duetos para casais sem jovens, enquanto playbacks de duetos ameaçaram mais casais com jovens do que playbacks de solos, indicando que a defesa do vínculo social é importante para casais sem jovens e a defesa de territórios é importante para casais com jovens; 3) a taxa de paternidade extrapar foi baixa (<4% dos ninhegos) e o sucesso reprodutivo foi alto (100% dos casais produziram pelo menos um juvenil); o investimento em canto pela fêmea e a duração do dueto se correlacionaram com a qualidade dos territórios, mas não com o sucesso reprodutivo do casal; 4) o nível de coordenação do dueto não indicou a qualidade ou motivação do casal na defesa territorial, visto que parceiros responderam de forma coordenada e equivalente a todos os playbacks coespecíficos; 5) foi encontrada evidência de monocromatismo sexual e pequeno (~4%) dimorfismo em tamanho, além de ausência de pareamento seletivo. Em conclusão, este estudo demonstra que parceiros reprodutores de João-de-barro coordenam seus cantos em dueto de forma cooperativa e por múltiplas razões, principalmente para defenderem território e o próprio vínculo social do casal.