Tesis
Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA) : análise da acurácia da hipertensão autorreferida e de fatores do ambiente alimentar escolar associados à hipertensão e obesidade
Fecha
2020-12-03Registro en:
GONÇALVES, Vivian Siqueira Santos. Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA): análise da acurácia da hipertensão autorreferida e de fatores do ambiente alimentar escolar associados à hipertensão e obesidade. 2018. 137 f., il. Tese (Doutorado em Nutrição Humana)—Universidade de Brasília, Brasília, 2018.
Autor
Gonçalves, Vivian Siqueira Santos
Institución
Resumen
Introdução: Hipertensão e obesidade são doenças multifatoriais emergentes na população
adolescente em todo mundo. Intervenções precoces são necessárias para deter o avanço e
possibilitar o controle de ambas. Entretanto, conhecer diagnóstico correto da hipertensão e os
fatores associados a ambas é fundamental para elaborar ações e políticas efetivas nesse
sentido. Objetivo: Investigar a acurácia da hipertensão autorreferida e os fatores do ambiente
alimentar escolar associados à hipertensão e obesidade na adolescência. Métodos: Foi realizada
revisão sistemática da literatura sobre a acurácia do autorrelato de hipertensão arterial e sobre
a relação entre a ambiente alimentar escolar e excesso de peso. Investigou-se as prevalências
de hipertensão autorreferida e aferida entre os participantes do Estudo de Riscos
Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA) e foram calculados os valores de sensibilidade,
especificidade, preditivos positivo (VPP) e negativo (VPN) do diagnóstico autorreferido. A
associação entre o autorrelato incorreto e fatores socioeconômicos foi investigada pela
regressão de Poisson. Também foi estudada a associação entre características do ambiente
alimentar escolar e a prevalência de hipertensão e obesidade através da regressão multinível de
Poisson. Resultados: Revisão Sistemática 1: Houve grande variação na sensibilidade e
especificidade entre os países e faixas etárias. Na maior parte dos estudos o autorrelato
subestimou a prevalência de hipertensão. A sensibilidade foi 42,1% (IC95% 30,9-54,2) e a
especificidade 89,5% (IC95% 84,0-93,3), com alta heterogeneidade (I2 > 99%). Revisão
Sistemática 2: Evidenciou-se a importância da qualidade dos alimentos e refeições disponíveis
nas escolas. Alimentos fritos por imersão nos almoços, refrigerantes disponíveis em cantinas e
a venda de alimentos em máquinas de autosserviços foram alguns fatores associados ao
incremento da massa corporal. Políticas de regulação também tiveram o potencial de promover
melhorias no estado nutricional. Os resultados sobre os alimentos vendidos no entorno das
escolas foram controversos. Artigo original 1: Foram avaliados 73.399 adolescentes de 1.247
escolas e 122 municípios. A média de idade foi 14,4 anos e 52,7% eram do sexo masculino. A
prevalência de hipertensão aferida, considerando também aqueles que declararam estar em uso
de medicamento hipertensivo, foi 10,2% (IC95% 9,6-10,9) e autorreferida 3,8% (IC95% 3,4-4,2).
Em relação aos parâmetros de avaliação da acurácia do autorrelato, observou-se 7,5% (IC95%
6,9-8,2) de sensibilidade, 96,6% (IC95% 96,5-96,7) especificidade, 18,9% (IC 95% 17,4-20,5) de
VPP e 90,8% (IC95% 90,6-91,0) de VPN. Estudar em escolas da rede privada se associou à
menor prevalência de relatos inconsistentes para as meninas (RP= 0,68; IC95% 0,55-0,83).
Artigo original 2: A prevalência de hipertensão, considerando as medidas aferidas, foi 9,6%
(IC95% 9,0-10,3). Observou-se cerca de 50% dos adolescentes com acesso à compra de
alimentos nas escolas e em seus entornos e 82% com acesso a refeições gratuitas do Programa
Nacional de Alimentação Escolar. Na análise ajustada, a hipertensão se associou ao consumo
de refeições ofertadas nas escolas (RP= 0,83; IC95% 0,74-0,93), à venda de alimentos no
entorno (RP= 0,71; 0,53-0,95) e à compra de alimentos em cantinas (RP= 1,23; IC95% 1,09-
1,39). Para a obesidade, menores prevalências estiveram associadas à oferta de refeições pela
escola (RP= 0,68; IC95% 0,54-0,87). Conclusões: O autorrelato de hipertensão apresentou
baixos valores estimados de sensibilidade para a população com 18 anos ou mais na revisão
sistemática e não representou uma boa estratégia para investigar a prevalência de adolescentes
hipertensos no ERICA. O uso do autorrelato de hipertensão em inquéritos ou para planejamento
de ações deve ser avaliado considerando diferenças regionais, socioeconômicas e culturais que
atuam diretamente no acesso a serviços de saúde da população. Identificou-se, por meio da
revisão sistemática, a importância da adoção de medidas para a melhoria dos ambientes
alimentares escolares em diversas partes do mundo. No Brasil, características contextuais e
individuais se associaram à hipertensão e obesidade. Foi identificada ainda, alta frequência de
venda de alimentos nas escolas apontando para a necessidade de regulamentação e
fiscalização desses espaços.