Tesis
Um pé na cozinha : uma análise sócio-histórica do trabalho de cozinheiras negras no Brasil
Fecha
2021-11-03Registro en:
MACHADO, Taís de Sant’Anna. Um pé na cozinha: uma análise sócio-histórica do trabalho de cozinheiras negras no Brasil. 2021. 305 f., il. Tese (Doutorado em Sociologia)—Universidade de Brasília, Brasília, 2021.
Autor
Machado, Taís de Sant’Anna
Institución
Resumen
Esta pesquisa é uma análise social e crítica sobre a história de longa duração do trabalho culinário de mulheres negras no Brasil. A cozinha e o trabalho executado nesse espaço são pensados como ferramentas de entendimento das hierarquias da sociedade brasileira, a partir de histórias de vida de cozinheiras negras. Neste sentido, esta tese é composta por uma investigação, desde o século XVIII até a atualidade, dos processos históricos, econômicos e políticos que resultaram na naturalização da presença de mulheres negras neste espaço, refletida na expressão popular “um pé na cozinha” e no estereótipo da mãe preta cozinheira. Assim, exponho os detalhes das relações de poder e de violência que se estabelecem na cozinha entre senhores e patrões brancos e trabalhadoras negras, além do caráter essencial de um ofício que permite a acumulação de capital e a manutenção de um estilo de vida de classes médias e altas na medida em que mantém cozinheiras negras trabalhando em condições exaustivas, precárias e miseravelmente remuneradas. Pensando na longevidade dessa estrutura, também analiso como os mecanismos de exclusão de mulheres negras no mercado de trabalho e a existência de uma etiqueta racial profissional, na qual devem se encaixar, permanecem se atualizando até a contemporaneidade, tendo a gastronomia e os relatos de chefs de cozinha negras como foco. Contudo, considerando seu confinamento à cozinha, é parte fundamental deste trabalho refletir sobre esse lugar enquanto um espaço geográfico de mulheres negras, que permite ampliar as definições de agência e de resistência com base em suas experiências. Dessa forma, analiso o trabalho culinário como recurso de ação social e política dessas trabalhadoras, considerando a forma como ousam se definir a despeito e a partir dele e os diversos modos com os quais o utilizam para construir e manter laços familiares e comunitários na população negra. Ademais, proponho pensar como cozinheiras negras são forçadas a ser analistas perspicazes do contexto em que vivem em prol de sua sobrevivência e dos seus e, nesse sentido, agem estrategicamente e produzem percepções sociais críticas que evidenciam a estrutura racial, de gênero e de classe que fundamenta a sociedade brasileira. Para analisar estas questões, construo uma história social e crítica do trabalho de mulheres negras na cozinha a partir de processos históricos mais amplos e trajetórias individuais, que tem como base registros e rastros biográficos diversos e entrevistas com cozinheiras e chefs de cozinha negras. A análise sócio-histórica do trabalho se baseia nas contribuições do campo da epistemologia feminista negra, da historiografia que tem como foco a agência de mulheres negras e dos estudos críticos e interseccionais sobre alimentação.