Tesis
Estudo etnobotânico na comunidade de Taquara : a luta pelo uso de plantas nativas pelo povo Kaiowá, MS, Brasil
Fecha
2018-03-14Registro en:
MILLION, Janae Lyon. Estudo etnobotânico na comunidade de Taquara: a luta pelo uso de plantas nativas pelo povo Kaiowá, MS, Brasil. 2017. x, 136 f., il. Dissertação (Mestrado em Botânica)—Universidade de Brasília, Brasília, 2017.
Autor
Million, Janae Lyon
Institución
Resumen
Este estudo foi desenvolvido com indígenas do tronco Guarani, etnia Kaiowá, do Tekoha Taquara, em Juti, Mato Grosso do Sul (MS). Este grupo foi expulso de sua terra ancestral, estando acampados na área que hoje, é uma propriedade particular, denominada Fazenda Brasília do Sul. Embora haja uma Portaria Declaratória que reconhece a terra indígena Taquara, seus efeitos foram suspensos por liminar. Os Kaiowá do Taquara estão sendo massacrados por esta briga de posse. O presente estudo é uma demanda desta comunidade e tem a pretensão de legitimar, mais uma vez, que aquela área é a terra ancestral deste povo. Para tanto, foi feito o levantamento das espécies de uso medicinal e a comparação com dados de literatura e de herbários. Os dados foram coletados através de turnês guiadas. Dois indígenas biólogos auxiliaram como interlocutores, facilitando a interação com sete informantes. As informações coletadas incluem o nome em Guarani, a tradução, o nome popular em português, os usos e partes das plantas usadas. Os informantes do Taquara apontaram 106 espécies de uso medicinal das quais, 90 foram identificadas até espécie. Esta lista apresentada é a maior em número de espécies entre os artigos que envolveram comunidades indígenas e a terceira maior lista para o MS. As famílias mais ricas foram Asteraceae (9 espécies) e Fabaceae (8 espécies). Os usos foram padronizados pela Classificação Internacional de Doenças (ICD) da Organização Mundial de Saúde (OMS). Os usos das plantas de Taquara abrangeram o maior número de categorias, tendo o sistema genito-urinário como a categoria com a maior citação. Há espécies na área do Tekoha Taquara que estão na lista de ameaçadas e outras, que não ocorrem mais na área. Plantas que aparecem na cosmologia deste grupo, foram coletadas, revelando conhecimento antigo da vegetação. Essa informação foi comparado com a de sete estudos e com a de dados armazenados em herbário. Foi gerada uma matriz de similaridade com base no índice de Sorensen. A compilação dos dados de literatura com herbário traz uma lista inédita de 628 espécies de plantas medicinais para o MS. Taquara se destaca com 61,1% de espécies exclusivas. A comparação da homogeneidade dos usos foi feita pelo Fator de Consenso dos Informantes (FIC), tratando-se como informante cada artigo, que ilustrou pouca consistência de usos entre os grupo no estado. Este estudo é o primeiro a relatar a mistura de espécies para o tratamento de doenças. A aglomeração dos resultados demonstra a singularidade, especifidade e antiguidade do conhecimento associado às plantas dos Kaiowá de Taquara. Isso sugere que seu conhecimento é o resultado de anos de co-evolução com a flora local deste território, afirmando que de fato, Taquara é a terra ancestral dos Kaiowá.