Tesis
A interseccionalidade de gênero, raça e classe no Programa Ciência sem Fronteiras : um estudo sobre estudantes brasileiros com destino aos EUA
Fecha
2016-05-26Registro en:
BORGES, Rovênia Amorim. A interseccionalidade de gênero, raça e classe no Programa Ciência sem Fronteiras: um estudo sobre estudantes brasileiros com destino aos EUA. 2015. 215 f., il. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação)—Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
Autor
Borges, Rovênia Amorim
Institución
Resumen
Esta dissertação teve o objetivo de identificar o perfil por gênero, raça e classe de estudantes de graduação no Programa Ciência sem Fronteiras, em intercâmbio nos Estados Unidos entre 2012 e 2015, com vistas a avaliar em que medida essas condicionantes se conectaram às dificuldades, ou não, em relação ao domínio da língua inglesa. No cumprimento desse propósito, analisou-se o impacto da baixa proficiência em língua inglesa na seleção definida por critérios de mérito. Para a obtenção da amostra de 1.283 bolsistas realizou-se um survey com o envio de questionários aos participantes do intercâmbio nos EUA relacionados no site oficial do Programa, o “Bolsistas pelo Mundo”. A análise estatística teve o suporte do software SPSS. Assim, à luz do materialismo histórico e dialético, a pesquisa revelou as contradições intrínsecas do intercâmbio brasileiro. Para a fundamentação teórica, utilizou-se estudos de autores nacionais e estrangeiros: Bresser-Pereira (2003, 2006, 2015), Boito Jr. (2012; 2013), Castelo (2012), Lima e Contel (2011), Mello (2011), Martens, Rusconi e Leuze (2007), Morosini (2006, 2009, 2011 2013), Bhandari e Blumenthal (2013), Schwartzman (2001), Velho (1998, 2011), Oliveira (2010), Fernandes (2000), Lázaro (2012), Jaccoud (2013), Gomes (2001), Piovesan (2005), Rawls (2009), Louro (2000, 2014), Marx (1974, 2007, 2015), Barbosa (1996, 1999), Garcia-Filice (2007, 2011), Queiroz (2001, 2004), Guimarães (2002), Spears (2014) e outros. Os resultados indicaram que o CsF: i) vinculou-se à estratégia política de um Estado neoliberal e indutor de um novo desenvolvimentismo nacional, pautado pelo crescimento econômico articulado à redução das desigualdades; ii) mostrou-se interdependente do capitalismo transnacional do século XXI e do imperativo da capacidade dos países em competir no mercado global a partir de avanços científicos e tecnológicos; iii) refletiu os aspectos estruturais de desigualdade econômica, racial e de gênero e referendou a inadequação do ensino de inglês na educação básica no Brasil, frente ao contexto da internacionalização da educação superior. Conclui-se que as desigualdades históricas de ordem econômica, racial e de gênero materializaram-se, contraditoriamente, no CsF. O programa se mostrou um espaço de privilégio para jovens do sexo masculino, brancos, de melhor poder aquisitivo e procedentes das regiões mais industrializadas do Brasil. Dessa forma, estudantes pobres, em sua maioria negros/as e procedentes de escolas públicas foram os mais penalizados pelos reflexos das desigualdades regional, econômica, racial e de gênero. Ressignifica-se, assim, com robusto trabalho de campo, a fragilidade dos conceitos de mérito e equidade que ancoram o CsF. Mérito para quem? Equidade com quem? Entende-se que as políticas afirmativas implementadas no Brasil, com maior ênfase a partir de 2000, contribuíram para que a representação dos segmentos sociais no CsF não fosse ainda mais discrepante e injusta.