Tesis
Corpo de planta : terapias e magias dxs curiosxs da baixa Amazônia do Peru, sob uma perspectiva situada de gênero e de saúde popular
Fecha
2015-11-05Registro en:
ECHAZÚ BÖSCHEMEIER, Ana Gretel. Corpo de planta: terapias e magias dxs curiosxs da baixa Amazônia do Peru, sob uma perspectiva situada de gênero e de saúde popular. 2015. 430 f., il. Tese (Doutorado em Antropologia)—Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
Autor
Echazú Böschemeier, Ana Gretel
Institución
Resumen
A presente tese é uma etnografia situada em Tamshiyacu, povoado da baixa Amazônia peruana que é muito conhecido por seus albergues destinados a cerimônias com ayahuasca no marco do turismo xamânico. Partindo da proposta de uma desconstrução daquilo que chamo aqui o mito político do "homem-xamã-que-cura-com ayahuasca", delineio uma análise crítica da literatura relativa a magias e terapias populares na floresta do Peru. Com base na etnografia realizada estabeleço que: xs especialistas em questão não são somente homens, não são exclusivamente xamãs, não apenas curam — mas também podem fazer dano intencionalmente — e não só lançam mão da ayahuasca na preparação de seus remédios mágicos e terapêuticos. Com o intuito de apresentar uma diversidade que excede à restrição conceitual inerente a esse mito, o trabalho de campo se baseia em observações participantes e narrativas de vida que focalizam as relações de gênero entre mulheres/homens e plantas a partir das práticas terapêuticas e mágicas de curiosxs locais (entre elxs, xamãs, curandeirxs, purguerxs, sobadorxs[de mulheres grávidas], sobadoxs de lisiadxs, naturalistas, yerberxs e parteirxs) e na relação com suas/seus pacientes. Como proposta de análise, desenvolvo aqui uma reflexão sobre aspectos do corpo humano que, na concepção local, são idênticos aos das plantas. O fato de entrar em contato com um vegetal específico provoca uma ressonância corporal que, na direção desejada, facilita ou promove o alívio ou a cura da perturbação. A noção corriqueira que coloca ao corpo humano como uma materialidade fundamentalmente afim com as plantas favorece paralelos imaginários e práticos entre as mulheres e homens do mundo humano e uma multiplicidade de seres que pertencem ao mundo não-humano, propiciando magias e curas através da permanente relação de tensão e colaboração entre esses dois territórios. Muitas vezes, esses vínculos se estabelecem em uma linguagem que é genderizada[gendered], e que se define através do caminho da escolha de palos, que são certo tipo de vegetais vinculados à masculinidade, assim como de hierbas, vegetais que se relacionam com a feminilidade. A presente tese também explora as exceções que representam as mulheres e os homens que acessam, de maneira alternada, aos dois mundos.