Thesis
Atenção primária em saúde e contexto familiar: análise do tributo centralidade na família no PSF de Manaus
Fecha
2010Registro en:
SILVA, Nair Chase da. Atenção primária em saúde e contexto familiar: análise do tributo centralidade na família no PSF de Manaus. 2010. 310 f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2010.
Autor
Silva, Nair Chase da
Institución
Resumen
A família como foco da atenção é um dos atributos da Atenção Primária em Saúde sendo necessário conhecê-la em sua dinâmica e assisti-la em suas necessidades individuais e de grupo em interação. Reconhece-se o contexto familiar como o espaço primeiro de identificação e explicação do adoecimento de seus membros e onde este adoecimento adquire maior relevância. Tais características tornam a família uma unidade de cuidados, devendo ser compreendida pelos profissionais de saúde em suas interrelações, ao mesmo tempo em que é uma unidade prestadora de cuidados, podendo tornar-se uma parceira dos serviços de saúde no cuidado de seus membros. A Estratégia Saúde da Família tem como proposta estabelecer esta parceria com a família tornando-a mais autônoma, mais independente, contribuindo assim para a construção de sua cidadania. A pesquisa teve como objetivo analisar o atributo centralidade da família no PSF, buscando examinar como o contexto familiar é considerado nas práticas de saúde dos profissionais, e como as famílias percebem estas práticas no PSF de Manaus. Para o desenvolvimento do estudo optou-se pela pesquisa qualitativa. Neste estudo foram informantes as famílias e os profissionais que atuam na Estratégia. Como técnica de levantamento de dados foram realizados grupos focais com enfermeiros, médicos, agentes comunitários de saúde e auxiliares / técnicos de enfermagem; entrevistas semi estruturadas com famílias cadastradas e com coordenadores dos Treinamentos Introdutórios e Cursos de Especialização em Saúde da Família; e observação das práticas dos profissionais das equipes de Saúde da Família nas Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF), e nos domicílios das famílias cadastradas. O trabalho de campo foi realizado no período de dezembro de 2008 a abril de 2009. A análise de dados confrontada com a literatura permitiu identificar que as concepções de família dos profissionais das ESF e das famílias cadastradas corroboram a literatura quando evidencia que o entendimento sobre o que é família é diverso, a depender dos referenciais de quem o manifesta. Deste modo emergiram concepções de família como: família para além da consangüinidade, família como espaço de relações, família como um campo complexo e família como aqueles com quem se pode contar. Como tipologias de família emergiram: família nuclear, família monoparental chefiada por mulher, família trigeracional, família transitória e família satélite. O conhecimento dos profissionais sobre as famílias cadastradas mostrou-se referido às famílias como coletividade, indicando mais um conhecimento sobre a comunidade do que propriamente um conhecimento sobre as famílias. A concepção das famílias cadastradas sobre a abordagem da família pela ESF mostrou o ACS como o membro da equipe que mais lhe conhece. A análise das práticas de saúde dos profissionais das ESF direcionadas às famílias mostrou que a abordagem familiar se fez presente em poucas ações tais como: reunião com a família e visita domiciliar realizadas por ACS, e, atividades desenvolvidas por enfermeiros e médicos na intermediação de conflitos familiares, com repercussões tanto no contexto familiar quanto social. A análise da documentação da família mostrou que os registros sobre o núcleo familiar se dão de forma incompleta e insuficiente, sem interlocução entre os membros da família. O prontuário familiar encontra-se fragmentado com as fichas de Assistência Médico Sanitária dos integrantes da família separadas por programas prioritários e a ficha de cadastro das famílias com dados sócio-econômicos sob a guarda do ACS dificultando sua consulta por parte dos demais membros das ESF. A visita domiciliar é por sua vez uma prática mais direcionada aos indivíduos do que às famílias. Seus objetivos foram referidos como: uma atividade administrativa de coleta de dados, uma atividade assistencial, uma estratégia de informar tanto familiares quanto a equipe, uma forma de estabelecer vínculos, resgatar faltosos e agendar procedimentos na UBSF. A análise destas práticas indica que a abordagem familiar é referida recorrentemente aos indivíduos inscritos nos programas do MS e/ou portadores de limitações físicas que os impeçam de locomoverem-se até às UBSF. Do mesmo modo, as famílias não perceberam receber atenção focada na família, reconhecem a atuação ainda referida ao plano individual do membro da família. A abordagem da família na capacitação dos profissionais das ESF está aquém da proposta do Programa, os conteúdos ministrados sobre abordagem familiar são insuficientes, tanto temáticos como de carga horária. A análise da abordagem da família nas atribuições dos profissionais contida em documentos oficiais aponta o ACS como o maior responsável pelos vínculos com a família devendo munir tanto a ESF quanto as famílias de informações de seu interesse. No entanto, a observação do cotidiano das práticas dos profissionais das ESF indicou baixa utilização pelas ESF das informações trazidas do contexto familiar pelo ACS. Em síntese, a análise da centralidade na família do PSF de Manaus mostrou que a abordagem tem se dado de forma hegemônica sobre o indivíduo, e de forma incipiente sobre a família. Para que as equipes efetivem o atributo da APS centralidade na família são necessárias medidas dos gestores federal, estadual e municipal para uma formação específica e disponibilização de ferramentas e recursos que possibilitem a abordagem familiar.