Dissertation
O processo de recuperação do uso indevido de drogas em igrejas pentecostais Assembleia de Deus
Fecha
2010Registro en:
Rio de Janeiro s.n 2010 200p
BR526.1; R363.12514, R672p
Autor
Rocha, Mary Lança Alves da
Institución
Resumen
Esta dissertação tem como objetivo compreender o processo de recuperação do uso indevido de drogas vivido por fiéis da igreja pentecostal Assembleia de Deus de uma comunidade popular da cidade do Rio de Janeiro. Fez-se uso do método qualitativo, por meio da utilização de entrevistas semi-estruturadas e observação participante, considerando a visão do fenômeno dos indivíduos que estão neste processo. Foram entrevistados em profundidade 10 participantes de igrejas Assembleia de Deus (AD) que buscaram o local por problemas relacionados ao uso indevido de drogas. Observou-se que a busca pelo tratamento religioso decorre do respeito que os sujeitos e a comunidade têm pelos fiéis da AD, do envolvimento dos familiares dos usuários de droga com a igreja a fim de conseguir ajuda para tirá-los desta situação, da busca ativa que a igreja faz dos mesmos para lhes propor um novo estilo de vida e da crise existencial decorrente da perda de controle sobre o uso da droga e de problemas relativos ao tráfico. Foi demonstrado que a igreja faz o trabalho de recuperação do uso indevido de drogas visando à cura das almas e não ao tratamento em si, como meio de transformar a sociedade pela transformação de seus indivíduos, um a um. Durante o processo de recuperação, o sujeito se identifica com outros significativos que lhes oferecem uma estrutura de plausibilidade para que possam aprender um novo modo de interpretar o mundo e de estar nele. O indivíduo afasta-se dos antigos companheiros de droga ou de tráfico e passa a redefinir sua biografia em termos de antes e depois da conversão. As dificuldades de relacionamento dentro da igreja são apontadas como o maior fator de desmotivação para a permanência neste grupo. A conclusão do estudo é de que tanto a categoria pessoa como indivíduo são utilizadas no processo de recuperação. Como pessoa, o sujeito está subordinado à consciência coletiva da igreja que lhe dita as regras do modo correto de pensar, interpretar os textos sagrados e se comportar, além de dizer como a realidade se estrutura. Também passa a pertencer a uma rede de relações que lhe oferece um tratamento diferenciado, expresso especialmente pelo apoio social. Como indivíduo, ele é responsável por suas escolhas, desde o uso de drogas, como pela busca e adesão ao tratamento, a ele e pela recaída. Sua auto-estima é fortalecida pelo desenvolvimento de potencialidades e pelo respeito que adquire perante a comunidade. Sua individualidade se expressa na margem de manobra que tem em relação ao seu novo papel socialmente predefinido. O trabalho aponta a possibilidade de diálogo e colaboração entre a AD e os profissionais de saúde na questão das drogas, pois, embora a exigência de abstinência como único resultado possível do tratamento feita pela igreja divirja do paradigma de Redução de Danos adotado pela Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas, esta instituição tem contribuído na prevenção, recuperação e reinserção dos mesmos à sociedade, que são objetivos desta política.