masterThesis
Entre o desejo e a contradição: os (des) caminhos na busca de uma igreja nova
Registro en:
Autor
Souza, Fabiana Ferreira Nascimento de
Institución
Resumen
Este trabalho examina, tendo como referencial teórico a Análise do Discurso pecheuxtiana, o
funcionamento discursivo do Jornal Igreja Nova. O referido periódico surgiu como um espaço
alternativo, não institucional, para que leigos e leigas da Igreja Católica pudessem manifestarse
contra as ações das alas conservadoras da Igreja. O discurso do Jornal, que se declara
alinhado com a Teologia da Libertação, reverbera os preceitos progressistas, que tiveram
espaço institucional a partir da realização do Concílio Vaticano II. A fim, portanto, de analisar
o funcionamento discursivo do Jornal Igreja Nova, observando, também, como o discurso da
Teologia da Libertação se inscreve neste discurso, dividimos o nosso trabalho em quatro
capítulos: o primeiro se propõe a discorrer sobre as posições oficiais da Igreja, seus dogmas e
preceitos institucionais, para que compreendamos o posicionamento da Teologia da
Libertação como a que se propõe a mudar paradigmas eclesiais. Ainda nesse capítulo,
enfocamos, especificamente, o conflito sócio-político-religioso que se instalou quando houve
a saída de Dom Hélder Câmara e a chegada de Dom José Cardoso Sobrinho na Arquidiocese
de Olinda e Recife – este representando os conservadores; aquele, os progressistas. No
segundo capítulo, tratamos dos pressupostos teóricos que dão suporte às análises, enfocando
os principais conceitos nelas mobilizados, tais como: Formação discursiva; Formação
ideológica; Sujeito e Memória discursiva. O terceiro capítulo contribui com a dissertação, ao
apresentar o nosso corpus discursivo, evidenciando quais foram as condições de produção do
discurso do Igreja Nova. O quarto e último capítulo traz, efetivamente, as análises de
sequências discursivas extraídas do Jornal. Pudemos concluir, a partir de tais análises, que o
discurso do Igreja Nova se constrói na contradição entre o desejo de ser Igreja e o de construir
a Igreja desejada, pois, embora se alinhe com os preceitos fundamentais da Igreja Católica
oficial, sacralizando a hierarquia e reconhecendo a santidade papal, atribui à Igreja a
obrigação de se envolver nas lutas sociais, entendendo este ato como o “ide” de Jesus Cristo.
Esta característica é uma das marcas do “Novo Jeito de ser Igreja”, tão exaltado pelos que
fazem o Jornal, que, além disso, luta pelo respeito ao papel desempenhado, na Igreja, pelos
pobres, mulheres, leigos e padres casados, evidenciando, assim, a presença de outra posiçãosujeito,
que se contrapõe à Forma-Sujeito da FD religiosa católica, trazendo dizeres de outros
lugares para dentro de tal FD. Como nunca deixarão de existir as contradições –
características inerentes a qualquer discurso −, vemos que estas se fizeram presentes no
discurso do Igreja Nova de diferentes formas, indo, por exemplo, de encontro ao engajamento
do Jornal, na sua opção preferencial pelos pobres, ao deixar entrever, em seu discurso, o
discurso burguês. Em suma, esta dissertação analisa a constituição do discurso do Jornal
Igreja Nova na intersecção entre a busca pela libertação e seu encerramento na instituição
católica, assim como as diversas posições-sujeito que se constituíram nesse discurso,
mostrando como saberes, advindos de outros lugares, podem interferir nas diversas maneiras
de se conceber o “ser Igreja”.