masterThesis
Caos e pós-modernidade na cultura pernambucana - a estética do mangue
Registro en:
Romário Saldanha Neto, Manuel; Joachim, Sébastien. Caos e pós-modernidade na cultura pernambucana - a estética do mangue. 2004. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004.
Autor
Romário Saldanha Neto, Manuel
Institución
Resumen
Buscando explicitar as bases econômicas, sociais e políticas do que veio a
denominar-se movimento mangue , a presente monografia caminhou no sentido de fazer um
estudo interdisciplinar, concretando ao final uma pesquisa plástica. Com vistas, mostrar os
liames profundos que unem o universo do fazer artístico às relações da sociedade
pernambucana, deu-se ênfase ao período que vai de 1990 à 2000.
Nesta perspectiva, explicitamos, ao longo do texto, certas referências simbólicas
arquetípicas de homem, natureza e cultura do universo imaginário nordestino, tais como,
resistência, fome, seca e pobreza , que permeiam profundamente o discurso da cultura
Mangue, marcado pela fusão do imaginário do sertão com o imaginário do litoral
pernambucano.
A partir de autores, tais como: Euclides da Cunha, Gilberto Freyre e Josué de Castro,
objetivamos melhor estudar e compreender o referido movimento cultural.
Além de buscar compreender criticamente o processo de pós-modernização da
sociedade pernambucana, buscamos mostrar, principalmente através de dados estatísticos e
recortes jornalísticos, a emergência do referido movimento, enquanto representação e
identidade da cidade do Recife.
Por fim, buscamos traçar um quadro comparativo entre o presente movimento
cultural e a questão do avanço da cidadania, buscando desta forma explicitar as linhas
emancipatórias ou conservadoras presentes na cena social da cidade do Recife e do Estado de
Pernambuco.
Ao analisar o que veio a configurar-se como Movimento Mangue , encontramos em
sua gênese pensadores, tais como Euclides da Cunha (1866-1909), que em sua obra os sertões
descreve a base natural e cultural sobre a qual repousa a representação do homem nordestino,
principalmente do interior. Nos capítulos que compõem a referida obra, encontramos a
dialética entre o sul do Brasil moderno e o nordeste arcaico nas figuras emblemáticas de
uma luta entre o sul republicano, industrial e positivista e o nordeste agrário, arcaico e
messiânico. A nível da esfera mais íntima desta dialética, encontramos a figura dos
políticos/coronéis/jagunços e latifúndios x a figura do povo desapropriado, místico e
violento.
O binômio contraditório Pobreza e Riqueza , no âmbito pernambucano, é
explicitado na luta entre um interior estadual abandonado à pobreza e à violência de suas políticas internas, x a faixa litorânea detentora do poder decisório e da riqueza, marcado pela
violência do trabalho escravo.
Seria ingênuo de nossa parte destacarmos tais expressões concreto-simbólicas do
jogo de interesses e influências que o capitalismo (Marx e Engels, 1845), já mundializado,
exercia no desenvolvimento do universo brasileiro e nordestino.
O atual momento cultural pernambucano será, pois, um dos pontos de culminância
mais crítico do projeto de pós-modernização brasileiro, em sua seção nordestina, onde a
paulatina falência do processo agro-industrial levará o Estado a direcionar seus investimentos
para o setor terciário (serviços e turismo) como forma de suprimir suas carências sócioeconômicas
de sobrevivência.
Este estado de pós-modernidade (Vide Josué de Castro, Fome um Tema Proibido e
Chico Science, da Lama ao Caos, do Caos à Lama) trará em si a implantação superficial das
novas tecnologias na administração política, na produção econômica e na vida cotidiana da
sociedade, aliando mais uma vez, devido aos mecanismos históricos de concentração de
riqueza, o desenvolvimento à pobreza.
Nossa hipótese de pesquisa é que a emergência da Cultura Mangue se afirmará
como resposta e resistência à desconstrução político-econômica e social pela qual tem
passado o Estado de Pernambuco. Dando-se ênfase, do início ao fim desta dissertação, à vida
comum como expressão par excellence do referido movimento artístico cultural, tentou-se
desta forma desmistificar o processo do fazer artístico , da obra de arte e do artista ,
como algo excepcional. Nesta perspectiva, o viver ou sobreviver cotidiano é a base e síntese
da obra de arte em essência.
Por fim, conectando o nível da hermenêutica histórica, buscou-se explicitar a
complexidade das mudanças sociais, políticas e econômicas pelas quais tem passado o Estado
de Pernambuco, com o seu atual momento simbólico-cultural, tentando apresentar, de uma
forma mais abrangente, a sociedade pernambucana.
Admitimos, finalmente, que, uma vez explicitada a hipótese da existência de uma
estética particular presidindo a dimensão cultural da sociedade pernambucana, afirmamos,
que esse mesmo olhar mostra-se mais como um recorte ou leitura sobre a realidade, não
pretendendo de forma alguma esgotar a infinidade e vastidão do assunto, servindo apenas
como mais uma abertura e subsídio ao debate e a melhor compreensão da atual realidade
pernambucana