Tesis
Aquisição da escrita-padrão do português brasileiro em esfera escolar : um estudo transversal
Fecha
2015-12-15Registro en:
PIRES, Lilian Coelho. Aquisição da escrita-padrão do português brasileiro em esfera escolar: um estudo transversal. 2015. 256 f., il. Tese (Doutorado em Linguística)—Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
Autor
Pires, Lilian Coelho
Institución
Resumen
Investiga-se o desenvolvimento da língua escrita-padrão do português brasileiro por indivíduos brasileiros em contexto de educação formal. Adotando-se a teoria de Princípios e Parâmetros e o Programa Minimalista (cf. CHOMSKY, 1995, e estudos subsequentes), assume-se a hipótese de que tal processo se constitui como aquisição de segunda língua (L2). O objetivo do estudo é caracterizar o desenvolvimento da gramática do indivíduo letrado buscando-se examinar a aquisição do sistema de clíticos de 3ª pessoa, na língua escrita, dado que tais categorias não ocorrem na língua falada. De acordo com a descrição dos compêndios gramaticais adotados no âmbito escolar, o objeto direto anafórico, na língua escrita-padrão, é realizado pelo clítico pronominal, sendo a ênclise a posição ‘lógica, normal’, em oração raiz e principal, e a próclise associada a fatores específicos (como a presença de advérbio/negação e o contexto de subordinação) (CUNHA e CINTRA, 1985/2008). Para tanto, adotou-se a perspectiva transversal, pela análise da produção escrita de estudantes nas seguintes etapas da escolarização – Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior. Na análise, parte-se do ‘Bilinguismo Teórico’de Roeper (1999), em que a ocorrência de regras contraditórias na gramática do falante não implica opcionalidade, mas a coexistência de mini-gramáticas, o que leva à conclusão de que todo falante é bilíngue. Na presença de duas gramáticas, uma delas pode ser uma Gramática Mínima Default, definida em termos de economia, independentemente do input, pelo acesso direto à Gramática Universal, em oposição à gramática com valores marcados, que projeta mais estrutura, sendo, portanto, menos econômica. É importante notar que as formas da gramática do adulto não resultam de reanálise, com a consequente eliminação das formas prévias. Ao contrário, as formas inovadoras dão origem a outras gramáticas internas (G2...Gn), no processo de aquisição, dando origem ao bilinguismo (universal). Assumimos ainda a abordagem de Kato (2005), que adota não somente a teoria de Roeper (1999), mas também a hipótese de Silva-Corvalán (1986), que relaciona a distribuição das formas variáveis aos registros de fala. Segundo Kato (2005), o conhecimento linguístico do adulto letrado se desenvolve como regras estilísticas, que se situam na periferia, em oposição à gramática nuclear, manifestando o estatuto de segunda gramática (G2). Em certas condições, a G2 pode ter o estatuto de gramática nuclear, o que implica a situação de bilinguismo total/ nativo. Focamos nossa análise particularmente na aquisição das propriedades morfossintáticas de objeto direto. Nossa hipótese de trabalho parte de estudos prévios que apontam para as seguintes propriedades do PB: (i) perda do clítico acusativo de 3ª p.; (ii) aumento na ocorrência de objeto nulo e de pronomes fortes (CYRINO, 1990; KATO, CYRINO e CORREA, 1994; GALVES, 2001); (iii) próclise generalizada de clíticos de 1ª e 2ª pessoa; (iv) perda/ ausência do movimento longo do clítico (PAGOTO, 1993). Segundo a Hipótese do Acesso Parcial à GU (STROZER, 1992), nos termos de Roeper (1999) e Kato (2005), assumimos que a escola, sendo o ambiente formal das práticas de letramento, é o contexto privilegiado para oferecer o input para a aquisição da sintaxe dos clíticos, e, no estágio inicial da aquisição da língua escrita-padrão, haverá transferência de valores paramétricos do português oral (L1/G1). A produção escrita dos estudantes é eliciada em narrativas com lacunas, cujo preenchimento implica a escolha entre o clítico de 3ª pessoa (em contexto de próclise e ênclise), e suas variantes (objeto nulo, pronome lexical e sintagma nominal pleno). Os resultados apontam similaridades entre a aquisição da língua escrita-padrão e a aquisição de L2, já que as seguintes propriedades são encontradas: opcionalidade, que é associada com a indeterminação lexical no mapeamento de traços formais (WHITE, 2003), assim com o desenvolvimento linguístico, já que o uso de clíticos de 3ª pessoa aumenta, à medida que as demais variantes diminuem. No entanto, o desenvolvimento da G2 é restringido por propriedades semânticas e sintáticas: assim, observou-se que o antecedente do objeto direto marcado para os traços [-animado] e [+/-específico] favorece o objeto nulo; sentenças do tipo raiz/ principal favorece o uso de clíticos. Constata-se que o input linguístico oferecido pela escola resulta no uso de clíticos, porém, havendo competição de gramáticas que exibem formas características da G1 e formas inovadoras, que indicam aquisição da G2. Entre os objetivos da pesquisa, consta o interesse em fornecer evidência quanto à natureza do conhecimento linguístico, confirmando-se a hipótese de que a aquisição de L2 e o processo de letramento são fenômenos semelhantes que se desenvolvem pelo acesso à Gramática Universal, e contribuir para o desenvolvimento de tecnologias educacionais para o ensino do português na Educação Básica, sendo o bilinguismo assumido como uma característica intrínseca à Faculdade de Linguagem.